Artigo: Queda no número de mortes no país que ainda é o que mais mata
O 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado na última semana, revelou uma diminuição de 3,4% no número de mortes violentas intencionais (MVI) em 2023, com um total de 46.328. É de se comemorar? Ainda não, pois no Brasil vivem aproximadamente 3% da população mundial, mas o país, sozinho, responde por cerca de 10% de todos os homicídios cometidos no planeta.
A taxa brasileira, de 22,8 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, é quase quatro vezes superior à taxa média mundial, calculada pelas Nações Unidas (ONU). Um número assustador para um país sem guerra/conflito declarado.
O que fica deste documento é o registro positivo da queda deste número e o registro negativo no aumento da taxa de mortes decorrentes de intervenção policial no país. Entre 2013 e 2023 este número cresceu 189%, fruto da política de militarização e enfrentamento, ao invés de uma política de enfraquecimento financeiro das organizações criminosas.
Quem são estes mortos?
A edição de 2024 do Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), trouxe a confirmação do que se vê todos os dias nas notícias: o Brasil é um país em guerra contra seus jovens. O levantamento, feito com dados referentes a 2022, afirmou que praticamente metade (49,2%) dos 46,4 mil homicídios registrados no Brasil teve como vítimas pessoas entre 15 e 29 anos, a maioria homens pretos.
O país falha ano após ano na proteção dos seus jovens. Uma explicação óbvia, mas que não parece ir para a mesa quando se trata de política de segurança pública, é o ciclo vicioso da falta de perspectiva para esta população. Sem educação básica e sem emprego viram presas fáceis para o crime organizado e, consequentemente, inimigos do estado que assistiu a um aumento de 189% no índice de mortes por violência policial.